O cigarro eletrônico surgiu em 2003 como uma alternativa para pessoas que não conseguiam largar o vício do cigarro convencional, por não envolver a queima do tabaco e inalação da fumaça, a maior causadora de doenças em tabagistas. Passados 20 anos, a comercialização segue proibida no Brasil e seu uso gera preocupação entre os médicos.
Também conhecido como vape, o cigarro eletrônico é uma combinação de nicotina, em forma líquida, associada a solventes, água, flavorizantes, aromatizantes e substâncias destinadas a produzir um vapor mais suave. Esse líquido é aquecido, se transforma em vapor e é tragado pelo usuário.
O principal argumento da indústria para estimular o consumo, defende que o cigarro eletrônico seria uma opção menos prejudicial à saúde por não envolver queima de tabaco, seria apenas de um reservatório de nicotina.
Já para a Organização Pan-Americana da Saúde, escritório regional da OMS no continente americano, apesar dos efeitos a longo prazo não serem totalmente conhecidos, já se sabe que os cigarros eletrônicos geram dependência e liberam substâncias tóxicas que são cancerígenas ou aumentam o risco de doenças cardíacas e pulmonares.
“De fato, é necessário mais tempo para uma comprovação científica dos reais impactos do cigarro eletrônico para a saúde. Porém alguns estudos já apontam que ele não é inofensivo. O que se sabe até então, é de casos de síndrome de angústia respiratória, lesões na parte interna da boca e que já foram contabilizados mais de 100 casos de morte diretamente relacionadas ao cigarro eletrônico”, explicou Clarissa Mathias (CRM 10770), médica chefe do Serviço de Oncologia Oncoclínicas/HSI.
Retrocesso: apenas uma nova forma de fumar
Mundialmente, o uso de vapes divide opiniões. Na Inglaterra, onde 12,7% da população são fumantes, o governo decidiu distribuir um kit gratuito de vape para um milhão de fumantes como estímulo para pararem de fumar cigarros convencionais. A estratégia visa reduzir para 5% o número de fumantes até o ano de 2030.
No Brasil, a proibição para a comercialização foi renovada em abril deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através da resolução RDC 855/2024. No documento, a agência ponderam os receios de renormalização do ato de fumar e aumento do tabagismo no Brasil diante do efeito de porta de entrada ou recaída de ex-fumantes com a popularização dos cigarros eletrônicos.Importante lembrar que nas últimas décadas inúmeras ações foram desenvolvidas pelo Governo Federal, como as campanhas antitabagismo e a proibição do fumo em ambientes fechados. Como resultado, o percentual de adultos fumantes vem apresentando uma expressiva queda: em 1989, 34,8% da população acima de 18 anos era fumante, contra 12,6 % em 2019, ano com os dados mais recentes.
Por outro lado, Dra Clarissa Mathias alerta que o Brasil pode estar vivendo um retrocesso dessa conquista, “sobretudo se lembrarmos que se trata de um produto proibido no Brasil. Talvez, por conta do custo, não se popularize tanto, porém os impactos já provocados entre os jovens gera grande preocupação”, ressaltou.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) do IBGE, realizada em 2019, revelam que 16,8% dos adolescentes de 13 a 17 anos já experimentaram cigarros eletrônicos. Mais recente, em 2021, o Instituto Nacional do Câncer (INCA), revelou que os cigarros eletrônicos podem ser uma porta de entrada para o tabagismo.
“Um dos riscos associados ao cigarro eletrônico está relacionado ao fato que, por ter um preço elevado, muitas vezes os jovens não conseguem sustentar o vício, começando então a fumar com cigarro eletrônico e depois migrando para o cigarro convencional e outros tipos. Entre o cigarro eletrônico e o convencional, pensando na saúde, o melhor mesmo é buscar alternativas para não fumar”, concluiu.
Responsável Técnico: Dr Ricardo Madureira (CRM 12793), diretor Técnico Assistencial do Hospital Santa Izabel. G1
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