quinta-feira, 7 de março de 2024

Bahia registrou quase 130 assassinatos de mulheres em 2023, segundo rede de observatórios

Ao todo, 129 mulheres foram vítimas de homicídio na Bahia ao longo do ano de 2023. O número é o maior entre os oito estados analisados pela Rede de Observatórios da Segurança, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec).

No boletim "Elas vivem: liberdade de ser e viver", divulgado nesta quinta-feira (6), a rede destaca o panorama das violências contra as mulheres no território baiano e também nos estados do Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.

Em toda a amostra, foram 3.528 registros, distribuídos entre casos de homicídio, feminicídio, estupro e outros crimes.

O número de homicídios registrado pela rede na Bahia também supera a marca de feminicídios, quando o assassinato é motivado por violência doméstica ou discriminação de gênero. Ao longo do último ano, 70 feminicídios foram notificados no estado, abaixo dos índices de São Paulo (174), Rio de Janeiro (99) e Pernambuco (92).

Para a assistente social Larissa Neves, pesquisadora e uma das autoras do estudo, os dados de homicídios refletem as barreiras na elucidação dos casos e na tipificação jurídica de crimes contra mulheres.

"Por exemplo, no ano de 2023, houve muitas mortes sem esclarecimentos. Foram corpos de mulheres encontrados em BRs, BAs... em locais abandonados e que, com a divulgação dessas notícias, não vieram mais dados sobre o processo investigativo. Então, a gente se questiona até se, de fato, foi homicídio ou se não houve um outro caráter por detrás dessa morte", avalia a pesquisadora em entrevista ao g1.

Para contabilizar os casos, a Rede de Observatórios usa a veiculação na mídia como ponto de partida da coleta de informações. A metodologia consiste na compilação de registros de violência e segurança feitos em sites, jornais e redes sociais, entre outros meios, para posterior análise e revisão. Os pesquisadores também consideram dados obtidos por outras fontes.

Desse modo, o objetivo não é contrapor os números de órgãos de segurança ou demais entidades, mas contribuir para a formação de políticas públicas.

"Esse monitoramento tem o intuito de permitir que os crimes que possuem evidência, mas não só tipificados pela polícia como violência contra mulheres possam ser nomeados corretamente. Dessa forma, a gente tenta reduzir a subnotificação comum a esses casos e produzir análises mais seguras sobre o que ocorre na realidade, complementando e enriquecendo os dados oficiais".

Confira outros registros de violências contras as mulheres na Bahia em 2023:

- 84 casos tentativas de feminicídio/ agressão física

- 29 tentativas de homicídio

- 27 casos de violência sexual/ estupro

- 10 casos de agressão verbal

- 12 casos de cárcere privado

- 11 casos de sequestro

- 5 casos de trans feminicídio

- 2 casos de tortura

Rede de atenção tem grandes lacunas

Como o estudo reconhece, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) instituiu um departamento de proteção às mulheres, ancorado por ações como a Ronda Maria da Penha. Ainda assim, os esforços não se mostram suficientes para atender todo o território.

"A Bahia tem 417 municípios e apenas 38 centros de atendimento a mulheres, sete Núcleos Especializados de Atendimento à Mulher (Neams) e uma baixa quantidade de delegacias especializadas. Isso faz com que o estado permaneça com altos números de feminicídios no Nordeste", aponta o texto.

Para a Rede de Observatórios, uma ação eficaz para atacar os altos índices de violência inclui justamente a ampliação dessa rede, com maior cobertura ao longo do território baiano e agentes qualificados para receber as mulheres, sem revitimizá-las.

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