terça-feira, 12 de março de 2024

Assassinatos caem 4,1% em 2023, mas BA segue com mais mortes violentas no Brasil pelo 5° ano seguid

A Bahia teve queda de 4,1% no número de mortes violentas em 2023, mas segue como estado com maior registro de mortes violentas no Brasil pelo 5º ano seguido. Os dados fazem parte do Monitor da Violência, índice nacional de homicídios criado pelo g1, com base em informações oficiais dos 26 estados e o Distrito Federal. O levantamento foi divulgado nesta terça-feira (12).

Foram contabilizadas 4.848 mortes violentas no estado baiano no último ano, levando em consideração homicídios dolosos (quando o assassinato é intencional), latrocínios (quando a vítima é assassinada para que o roubo seja concluído) e lesões corporais seguidas de morte.

Os dados apontam uma média de 404 assassinatos por mês. As 4.848 mortes violentas na Bahia representam uma fatia de 12,2% de todos os casos no Brasil: 39.492. Em 2022, o estado registrou 5.057 mortes violentas.

Ao analisar a quantidade de habitantes do estado no mesmo ano, um total de 14.141.626 pessoas, a Bahia contabilizou 34,3 mortes violentas por cada grupo de 100 mil habitantes. Também é possível observar que a cada 2.916 pessoas na Bahia, uma foi assassinada.

A maioria das vítimas de homicídios dolosos na Bahia é formada por jovens adultos negros. Especialistas apontam que o envolvimento direto (por atuação) ou indireto (por morar em localidades onde há atuação) com o tráfico de drogas é a principal motivação destes assassinatos.

Em setembro do ano passado, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, admitiu que a guerra de facções é a principal responsável pela violência no estado. À época, o bairro de Valéria, na periferia de Salvador, era o ponto central de uma onda de violência após uma operação terminar com um policial federal e quatro homens mortos, é alvo de duas facções criminosas.

Outro caso de repercussão que terminou com morte relacionadas ao tráfico de drogas foi o ataque a tiros que terminou com três homens e um bebê assassinados, em agosto do ano passado, em uma localidade conhecida como Tubarão, no bairro de Paripe, em Salvador.

As investigações apontaram que dois dos homens mortos tinham envolvimento com o tráfico de drogas e o outro respondia por tentativa de feminicídio contra a ex-companheira.

Outro caso de grande repercussão foi a morte do dentista Lucas Maia de Oliveira, de 36 anos, em novembro, no apartamento em que morava, no prédio de luxo Celebration Garibaldi, localizado no Rio Vermelho, bairro boêmio da capital baiana.

O suspeito foi preso quase um mês depois e contou para a polícia que tinha uma relação de amizade com a vítima, mas os dois brigaram por causa de uma dívida por drogas no valor de R$ 100.

Em 2023, 63 pessoas morreram vítimas de latrocínio, quando criminosos assassinam para roubar os pertences. Logo no primeiro mês do ano, o técnico de enfermagem André Chagas Leite, de 26 anos, foi morto com um tiro na cabeça, no bairro Felícia, que fica na cidade de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia. Ele foi assaltado após comprar produtos em um supermercado.

Dois suspeitos do crime foram presos ainda em janeiro, na cidade de Poções, a cerca de 70 km de Vitória da Conquista, onde o caso foi registrado.

Na mesma cidade, o vigilante de uma escola municipal de Vitória da Conquista, Zilto Lima de Oliveira, de 51 anos, foi encontrado morto com marcas de tiros, próximo ao antigo aeroporto da cidade. A motocicleta dele foi roubada.

Já em setembro, Wdsoncley Lourenço Batista foi morto a tiros em Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, após sair do Rio Grande do Norte para comprar um carro na Bahia. Um amigo do homem, que estava com ele no momento dos disparos, também ficou ferido.

As vítimas foram surpreendidas por dois homens armados, que dispararam contra eles e fugiram. Dias depois, um dos suspeitos foi preso e confessou que o crime foi um latrocínio.

O levantamento periódico dos assassinatos é um dos projetos do Monitor da Violência, criado em 2017 pelo g1 em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).

Naquela época, o governo federal não tinha uma ferramenta que permitisse à sociedade – jornalistas, pesquisadores, gestores públicos e demais cidadãos – acompanhar, de forma atualizada, os dados sobre homicídios do país. O único levantamento nacional era o do FSBP, divulgado no segundo semestre de cada ano.

A divulgação dos dados pelos estados também não era padronizada, e não havia uma frequência definida.

A partir da parceria, as centenas de jornalistas do g1 espalhados pelo país passaram a levantar junto aos estados dados sobre as mortes violentas ocorridas mês a mês, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e das assessorias de imprensa dos governos.

Esse trabalho contribuiu para aumentar a transparência e a precisão das informações sobre segurança pública divulgadas no Brasil e, em 2024, o governo federal passou a publicar os dados de crimes violentos em um painel interativo com informações de todos os estados.

Os dados do governo federal, embora usem uma metodologia diferente da do Monitor (por incluir, por exemplo, mortes suspeitas e encontro de corpos e ossadas, que podem não ser homicídios), apontam para um cenário semelhante, de redução de 4% nas mortes violentas em 2023.

Esse aumento na transparência levou o g1 e os parceiros a decidirem encerrar o levantamento periódico das mortes violentas.

"O Monitor da Violência teve e tem um papel estratégico para a discussão de vários temas sensíveis da agenda da segurança pública, a exemplo dos dados sobre redução e esclarecimento de homicídios, letalidade e vitimização policial, sistema prisional, violência contra mulheres, entre outros. Afinal, a experiência internacional revela que é a partir da ação intensa de disseminação de informações fidedignas e qualificadas que políticas públicas são provocadas e gestores se mobilizam", afirmam Renato Sérgio de Lima e Samira Bueno, diretores do FBSP.

A decisão não significa o fim do Monitor da Violência – apenas do levantamento periódico de assassinatos, diante de um cenário em que dados nacionais e atualizados sobre esses crimes estejam disponíveis para a população.

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