O médico Paulo Augusto Berchielli, de 63 anos, está foragido depois que a Justiça decretou sua prisão por tempo indeterminado. Por mais revoltante que possa parecer, ele é acusado de estuprar ao menos quatro pacientes em sua clínica, no bairro Tatuapé, em São Paulo.
Duas vítimas relataram à polícia que os abusos sexuais foram cometidos depois de cirurgias de hemorroida. Uma enfermeira, de 47 anos, declarou que foi estuprada pelo proctologista, em agosto de 2022, logo após ser submetida a um procedimento cirúrgico desse tipo.
“Eu estava ainda grogue, por causa da anestesia. Mas lembro, em flashs, dele me colocando de bruços na maca e minha cabeça batendo na parede. Vomitei. Depois de um tempo, vi que ele limpava o pênis em uma pia ao lado da maca”, afirmou a vítima.
Antes do ato de violência sexual, o médico teria dado mais medicação à mulher. A enfermeira destacou que, por causa do excesso de remédios, “apagou” quando chegou em casa, em uma sexta-feira, acordando apenas no domingo.
“Quando acordei senti uma dor terrível na região do ânus. Ele me abusou no local onde havia feito a cirurgia. Fui em seguida na delegacia, para registrar um boletim de ocorrência”, acrescentou.
A enfermeira vestia a mesma roupa com a qual deixou a clínica de Berchielli. Por isso, o vestuário foi apreendido por policiais da 5º Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), no Tatuapé, para ser encaminhado à perícia.
Além de tudo que passou, a vítima ainda teve de lidar com um episódio de humilhação. Ela contou que sua calcinha “desapareceu” da delegacia. A enfermeira percebeu quando os laudos periciais do seu vestido foram concluídos, com resultado negativo.
Ela relatou que foi à 5ª DDM para questionar o sumiço da peça íntima e apontou ter sido “humilhada” por duas escrivãs.
“Uma delas perguntou para a outra se ela estava com calcinha, e tirando uma da minha cara porque eu perguntei sobre a minha, que tinha desaparecido”, disse.
Depois de muito tempo, a calcinha apareceu, com o resultado pericial, depois que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) ofereceu denúncia contra o médico e solicitou os laudos. O resultado, no laudo da calcinha, deu positivo para a presença de sêmen.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou em relação à conduta das policiais da 5ª DDM. Outra vítima de Berchielli, uma comerciante de 46 anos, relatou também ter sido abusada sexualmente pelo médico, no dia 6 de junho de 2023, depois de se submeter a uma cirurgia de hemorroida.
Após o procedimento, ela “acordou com muitas dores no ânus e vagina”. As dores duraram cerca de uma semana.
A comerciante fez três retornos pós-cirurgia. Em um deles, o médico teria pedido para ela “dar uma voltinha”. Por causa disso, a vítima ficou com as “pernas trêmulas” e não sabia como “sair daquela situação”. Ao subir na maca, ele teria encostado o pênis nas nádegas da mulher. “Ele ainda apalpou minhas nádegas com o pretexto de ajudar a subir na maca”.
A comerciante disse, ainda, que o proctologista, “em todos os exames”, cortava o dedo indicador das luvas. Ela acredita que ele fazia isso para ter “contato físico entre o dedo e a parte íntima” da vítima.
Daniel Leon Bialski, advogado do médico, negou as acusações. “Declaramos, ainda, que sua atuação sempre se pautou pela ética e respeito a seus pacientes, sendo reconhecido pela reputação ilibada conquistada ao longo dos mais de 40 anos de carreira, na qual atendeu e realizou procedimentos em milhares de pacientes, sem qualquer intercorrência ou acusação semelhante”, alegou.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou, nesta quarta-feira (25), que investiga “o profissional em questão”. No site do Cremesp, o registro do médico consta como ativo. “O Conselho esclarece, ainda, que, até o momento, não foi notificado oficialmente sobre o mandado de prisão”.
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