Em entrevista ao jornalista de uma emissora de televisão na quarta-feira (12), o pai de Hyara Flor morta supostamente pelo esposo de 14 anos, afirmou algumas incoerências no conflito com seu primo Amadeus.
As falas de Iago em entrevista demonstra como seus costumes não foram respeitados na comunidade cigana, muito menos na justiça brasileira. A única alternativa que o pai tem, são as redes sociais e diálogos midiáticos como recurso, para um julgamento justo. Porém, observamos que a discussão vai mais além, é percebido haver necessidade de um reconhecimento cidadão dos povos Calon, Rom e Sinti — sub-comunidades no convívio cigano.
Cada um desses grupos étnicos possui dialetos, tradições e costumes próprios, devendo ser reconhecidos e respeitados. A demora numa discussão social, acarreta prejuízos a própria sociedade, e mais ainda, a Hyara Flor.
Hyara foi supostamente morta a tiros pelo esposo, recém casados, ambos com 14 anos e num contexto de solucionar um problema entre seus pais. A vingança fez dela uma vítima, do descaso das leis brasileiras e do perpétuo milenar cultural cigano.
No diálogo com o apresentador ele contextualiza que houve um caso entre seu irmão e a sogra de Hyara, no passado, mas que ele 'esqueceu', ou seja, isso quer dizer que houve o perdão da parte de Iago.
Hyara foi pedida em casamento e o pai cedeu. Em seus costumes, o casamento é dado com 14 anos, contra as leis brasileiras e por isso não há registro civil em cartório. Contudo, o religioso é aceitável, sendo um festejo de mais de três dias, com ritos de lenço e muita festança.
A morte é vista com rituais de lamentações, queima de kampina (barraca de lona em que moram), e roupas pretas durante muito tempo. É visível nas redes sociais a dor da família, aos choros e gritos, cuidando de sua lápide.
A menina foi maltratada antes de morrer. O pai relata que ao visitá-la, questionou um possível hematoma e ela não respondeu, pois a avó do marido — matriarca da família (significa que ela tem um posto de respeito), afirmou ser 'o Amadeu mordendo ela com brincadeira', antes de Hyara responder que somente abaixou a cabeça em silêncio.
Ela foi maltratada pelo marido os 46 dias de casada, e cozinhava para todos eles, contou o pai. O tiro de pistola foi dado de baixo para cima, de modo à bala sair pela cabeça, com requinte de crueldade. Um tiro a queima-roupa não há opção de ser acidental, continua ele.
Ela solicitou ao pai uma visita para conversar, mas não teve tempo, o encontro aconteceu quando ela estava morta. A família do esposo estavam prontos para a fuga quando tudo aconteceu.
A suposta fuga da sogra com o irmão, é afirmado por Iago ser o motivo do pedido de noivado com o intuito da vingança ser feita. O fato da Hyara morrer com sede e com fome na hora do almoço, perturba muito sua família.
Nesta semana, o pai clamou à beira do túmulo da filha, ao Secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, por justiça. Apesar de afirmações de ameaças feitas no momento de dor, após a morte, Iago se retratou publicamente e desde então, solicita a justiça brasileira.
O reconhecimento da identidade cultural cigana se faz necessária, visto que habitam no país desde 1574, juntamente com o descobrimento. Um primeiro cigano a aportar no Brasil foi Jan Nepomuscky Kubitschek — bisavô de Juscelino Kubitschek ex-presidente do Brasil, no século XIX.
“Há um longo caminho a ser percorrido pelos povos Calon, Rom e Sinti contra os preconceitos que lhes é dirigido”, relata a autora Pricila Paz Godoy em seu livro, “O povo invisível: os ciganos e a emergência de um direito libertador”, de Priscila Paz Godoy.
O povo cigano é muito mais que adereços, vestimentas, dança e demais tradições; eles fazem parte da história do país, da identidade de uma população, do pertencimento de muitos costumes enraizados no Brasil.
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