O segurança da CCR Metrô Bahia denunciado por filmar – sem consentimento – uma jovem dentro de um dos banheiros da Estação Bom Juá, em Salvador, foi desligado da empresa ontem (18) por justa causa. A informação foi confirmada ao G1 pelo diretor da concessionária, André Costa. "A atitude de nosso colaborador não representa nossas crenças e valores, e por isso mesmo foi desligado por justa causa", disse o diretor da empresa.
O caso ocorreu na noite de segunda-feira (17) e é investigado pela Polícia Civil. A vítima é Aila Brito, de 20 anos, e voltava da faculdade quando a situação aconteceu. (Relembre Aqui)
Ainda na segunda, a jovem contou, nas redes sociais, que o segurança estava dentro de um banheiro interditado, ao lado do que ela usava, e fez a gravação por meio de uma janela que separa os dois cômodos.
"Eu estava no banheiro da Estação Bom Juá e, quando olhei para trás, tinha um homem no celular me filmando. Estou aqui tentando pegar [as imagens da] câmera de segurança, e o segurança diz que não pode dar a filmagem. Eu estou aqui sem saber o que fazer", contou ela na gravação. "Se alguém tiver alguma informação de como proceder em um caso como esse... O celular estava em um banheiro interditado. É um absurdo uma janela do banheiro dar para outro banheiro", complementou Aila.
Depois de perceber que estava sendo filmada, a jovem foi confrontar o segurança. O homem chegou a confessar que tinha cometido o crime, e pediu para que Aila apagasse o vídeo de denúncia que registrou.
"O segurança me chamou para conversar, e depois de muito me enrolar para mostrar a filmagem [da câmera de segurança], um deles admitiu que me gravou. Eu estou aqui e não sei como é que eu faço, não sei se chamo a polícia, não sei se eu vou para casa, se abro um B.O. [boletim de ocorrência]".
"Ele está tentando me convencer a não denunciar. Ele disse que não era para postar no Instagram. Está aqui querendo me convencer de que não está errado", disse a jovem na gravação da denúncia.
Pai da vítima viu gravação
O pai de Aila, João Brito, esperava a filha na estação, para levá-la para casa. Depois de encontrar a jovem abalada, ele foi atrás do segurança para tentar resolver a situação. Nesta terça, ele conversou com a reportagem da TV Bahia e detalhou a história.
"Ela mora comigo. Todos os dias eu pego ela [na estação], quando ela volta da faculdade. Quando estava esperando ela aqui ontem [segunda, 17], ela começou a chorar, falando: 'meu pai, tinha alguém me filmando no banheiro'. Eu imediatamente tentei pular o torniquete [catraca], não consegui e comecei fazer barulho".
"Depois de muito tempo apareceram dois seguranças. Eu expliquei a situação, e ele disse: 'vamos olhar as câmeras', mas eu percebi que estava tendo uma resistência por parte dele. Depois de muito tempo, quando ele percebeu que a situação estava ostensiva, ele falou que foi ele".
O pai de Aila reiterou que o segurança pediu para que a jovem apagasse o vídeo da denúncia, enquanto disse que também apagaria a gravação que fez dela. João chegou a ver a filmagem da filha no banheiro, feita pelo homem.
"Ele mandou ela cancelar o vídeo, porque ela fez um vídeo contando a situação toda. Ela, automaticamente, fingiu que tinha feito. Depois ele mostrou vídeo que ele tinha feito, tinha a calcinha dela, ela se abaixando no banheiro. Ele mostrou e depois ele disse que ia apagar o vídeo todo. Eu não pude ter a certeza de que ele apagou. Foi um choque, a gente ficou sem saber o que fazer".
"Minha filha ficou em choque, sem saber o que fazer. Ela começou a chorar, eu liguei para a polícia, que veio aqui e nos conduziu para a Central de Flagrantes. Eu ainda não assimilei a situação, estou tão revoltado. Crio minhas duas filhas com o maior carinho, o maior amor, para ela passar por uma situação. Foi uma situação extremamente ímpar na nossa vida".
João contou ainda que o segurança se "desculpou" pela situação, e pediu para que a família não denunciasse o caso em uma delegacia.
"Ele pediu desculpas, disse que é pai de família, que trabalha no metrô há oito anos. Só que nada disso justifica. Ele deveria ter pensado antes de cometer um ato desse. Isso pra mim é imperdoável, e agora ele tem que pagar pelo que ele fez. Ele disse que nunca tinha feito aquilo, que foi a primeira vez, mas isso não é pouco. Eu não posso simplesmente aceitar o perdão dele".
"Ela não dormiu essa noite. A gente está assimilando a situação, que foi muito chocante. Está sendo muito chocante para gente".
O que dizem a Polícia Civil e a CCR Metrô Bahia
A Polícia Civil informou que o segurança tem 28 anos, e que ele vai responder por ter registrado atos íntimos sem autorização da vítima.
Já a CCR Metrô Bahia disse que "lamenta profundamente o ocorrido e repudia qualquer tipo de violação de privacidade, assédio moral ou sexual, assim como quaisquer atitudes que não estejam alinhadas a valores como respeito, cuidado e empatia".
Disse também que já fez contato com a cliente, "colocando-se à disposição para prestar assistência e reforçar que está adotando as medidas disciplinares cabíveis", e que "está à disposição das autoridades para ajudar nas investigações".
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