Instado a opinar sobre o que as urnas do segundo turno das eleições estadual e nacional deverão revelar nos seus resultados, o advogado e quadro político Carlos Eduardo Sodré, considerado um exímio analista político, por conta de sua longa experiência, assim se pronunciou a O TROMBONE: “Não me lembro de uma eleição de disputa tão renhida decidir-se com tamanha antecedência. Isso vale para a eleição de governador do estado tanto quanto para a eleição presidencial. Salta os olhos dos que não se conduzem sob o influxo do fanatismo e dos que ainda não aprenderam que a política é como ela é – e não como as pessoas querem que seja – que as eleições estão decididas, a bem dizer é jogo-jogado. Falta o eleitorado ir às urnas depositar o voto. Para os que vão perder é típica crônica da derrota anunciada”.
Detalhando, a sua compreensão do assunto, Carlos Sodré considera que o segundo turno – salvo alguns estados, situações pontuais, localizadas – não teve o condão de alterar o quadro dos resultados no plano nacional e particularmente no Estado por isso, que cristalizaram-se as vitórias dos candidatos Lula, a presidente da República, e Jerônimo para novo governador do Estado.
E assevera: “Na Bahia, o candidato ACM Neto conseguiu produzir a façanha de autodestruir as chances que fez supor de que pudesse se eleger. Vejam bem: abstraindo-se do dever da humildade, subiu no salto alto e, por que tivesse, ditos 60% contra 9%, nas pesquisas do momento da largada da corrida eleitoral, abusou da arrogância; choramingou na aba da presidência do TSE, ao qual levou queixumes contra a Corte eleitoral baiana – atitude nada hábil e ainda assim papel de advogado jamais das partes; cerrou as portas do seu “QG” eleitoral passando a ideia de ter jogado a toalha.
Tudo, um festival de atos incompetentes e amadorísticos desses que nem político de grêmio estudantil adotava… Perdeu prefeitos explicitamente, enquanto outros – do mesmo modo que deputados que estavam em sua chapa no primeiro turno – adotaram a neutralidade aparente refluindo do apoio ao candidato em adesões que somente as urnas identificarão… Enquanto isso, o candidato Jerônimo (que tirou os 51 pontos da desvantagem da largada e cresceu mais nove positivos), além de demonstrar ser bom de urna e construir uma perspectiva real, concreta e imediata de vitória e poder, valendo-se de indiscutível humildade foi crescendo em desenvoltura e impôs-se como vitorioso arrebanhando novos votos (na penúltima pesquisa séria, cresceu 5%) enquanto o – apoio do candidato Roma mesmo que haja prometido levar os seus 9%, só conseguirá entregar a metade.
Agora, resta a constatação de que “a onça está morta”: o jovem professor Jerônimo, nascido em berço modesto, egresso da recôndita e pobre zona rural, um self-made-man, história pessoal limpa com a qual nos identificamos e nos sentimos representados, vai – desculpem os que se têm como bem-nascidos – ser eleito governador da Bahia de Yayá e de Yoyô…”No plano nacional, Carlos Eduardo Sodré, considera igualmente que a eleição está decidida e que o presidente será Luiz Inácio Lula da Silva, candidatura que chegou às urnas deste ano trazida pelos adversários que gastaram cinco anos promovendo o seu nome, relembrando-o diariamente nas redes sociais que o mantiveram vivo para fazer a travessia que o trouxe até o instante eleitoral para um embate que já não se cinge ao seu nome nem do atual presidente.
Entende que o confronto saiu do plano do enfrentamento dos candidatos para dar-se entre o que significa, de um lado, a reeleição do atual ocupante do Palácio do Planalto – que prega, sem-cerimoniosamente, a adoção de modelo autocrático como filosofia de embasamento do estado, afrontando os ditames da constituição federal em vigor – ou, de outro, a preservação da democracia como regime de inspiração e embasamento do estado brasileiro, como o estabelece a “lei das leis”.
Para Sodré, “Lula terminou passando a significar o desaguadouro da vontade supremacial do povo brasileiro que resolveu colocar os seus defeitos e segundo plano para priorizar a salvação do regime democrático, pela razão de que só alguém com a força de liderança e enraizamento no seio do povo brasileiro poderá cumprir esse papel, derrotando um presidente capaz de tudo (“até de um ato digno” – concede), um valetudinário sem precedentes na história do país, para tentar manter-se no poder e o empalmá-lo em obséquio do exercício de seus pendores e devaneios autoritários”.
Resultado disso – arremata – a nação acordou e terminou por tomar a eleição do candidato oposicionista nas mãos, deixando de ser uma causa de um homem, de partido ou de uma coligação, para converter-se numa causa da nação inteira. Não enxergar isso, é a miopia do irrealismo e do desejo de prevalecer o interesse pessoal acima da realidade ou a cegueira irremediável do fanatismo, ou do paroxismo do ódio.
Numa síntese, tudo aponta para que, na Bahia, Jerônimo se eleja com uma faixa de votos que, em previsão pessimista, pode situar-se em 55% ou oscilando até derredor de 60%. Já, Lula, na Bahia, pode ter qualquer número percentual desde 70% até 75%. Ambas, essas votações, mais que vitória ou eleição, ensejarão verdadeiras consagrações eleitorais, consolidando o prestígio da liderança dos governadores Wagner e Rui Costa e de outras lideranças expressivas como a do senador Otto Alencar.
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