A primeira audiência do desaparecimento de Davi Fiúza, que completará oito anos em outubro, começou na tarde desta quarta-feira (31), em Salvador. O adolescente sumiu aos 16 anos, após ser colocado em um carro que não possuía plotagem, durante uma abordagem policial no bairro de São Cristóvão. Desde então, o jovem nunca mais foi visto – nem vivo, nem morto.
A sessão é realizada na Vara de Audiência Militar, que fica no bairro do Bonfim. A mãe de Davi, Rute Fiúza, afirmou saber que o filho não está mais vivo, e disse que esse é o primeiro passo para que o jovem tenha um funeral.
"O meu coração da mãe é um misto de indignação e esperança. Eu preciso 'esperançar', como toda mãe. Hoje é o primeiro passo para que a gente tenha vitória sobre isso, e a minha principal vitória não é raiva, não é ódio, é poder dar um funeral ao meu filho. São quase oito anos. Está chegando aniversário de vida e de morte dele, em outubro. Eu preciso disso".
"Eu preciso disso para acalmar a alma. É muito difícil, porque o meu filho não teve direito de ir e vir. São oito anos que eu espero por ele, mas eu sei que ele não volta mais. De qualquer forma, ele está vivo dentro de mim, e vai continuar vivo até o fim da minha vida".
Ainda não há previsão de quando a audiência será encerrada. Os policiais envolvidos no caso devem ser ouvidos, assim como seis testemunhas de acusação – entre elas, pessoas que viram o jovem ser levado pelos PMs.
A luta de Rute tornou o caso de Davi conhecido internacionalmente. Nos últimos oito anos ela recebeu apoio de entidades importantes como as Organizações das Nações Unidas e a Anistia Internacional, que exigiram respostas do governo brasileiro. A diretora de programas da Anistia, Alexandra Montgomery, acompanha a sessão.
"Trata-se de um desaparecimento forçado, que é quando as autoridades se negam a dizer o paradeiro de uma pessoa com a qual elas mesmo desapareceram. Consta dos autos algumas testemunhas, que são oculares, e viram desaparecimento do Davi, quando ele foi abordado e colocado dentro de um veículo. Ele foi abordado inicialmente por policiais à paisana, mais nesse grupo de policiais haviam duas viaturas e outros policiais fardados".Inquérito
O adolescente Davi Fiúza sumiu no dia 24 de outubro de 2014, após a abordagem realizada por policiais do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) e Rondas Especiais (Rondesp).
Apesar do inquérito policial ter indiciado os 17 PMs que participaram da abordagem, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) ofereceu denúncia contra sete deles, por sequestro e cárcere privado, em 2018.
A Polícia Militar instaurou apenas um processo administrativo disciplinar para apurar a conduta dos PMs indiciados também em 2018, quatro anos após o desaparecimento de Davi. A família denunciou que ele foi encapuzado com a própria roupa, por policiais.
Ele teve mãos e pés amarrados e foi colocado no porta mala de um dos carros que não tinha plotagem. No momento da ação, o menino conversava com uma vizinha na Rua São Jorge de Baixo, que fica na comunidade de Vila Verde.
Desde o dia do desaparecimento do filho, a mãe disse que percorreu delegacias, Instituto Médico Legal e até locais de "desova" de corpos para tentar encontrar indícios dele, mas nunca teve pistas do garoto. //G1
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