As seis mudanças promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Esplanada dos Ministérios nesta segunda-feira (29) provocaram surpresa, inclusive, em deputados federais da base governista.
Ex-vice-líder do governo Bolsonaro, Paulo Azi (DEM) disse ter ficado surpreso com parte das alterações - exceto com a saída de Ernesto Araújo do Itamaraty, a quem ele criticou. “Já existia um coro, não só no Congresso como um todo, mas diversos setores da sociedade brasileira mostraram ao presidente que esse ministro perdeu qualquer condição de ficar na pasta. Já era uma mudança prevista. As outras, não”, afirmou, em entrevista ao Bahia Notícias.
Para Azi, a gestão de Araújo causou prejuízos às relações do Brasil com países que poderiam fornecer doses de vacinas contra a Covid-19. “Ele sempre fez uma opção pelo enfrentamento com diversas nações, o que prejudicou muito a relação do Brasil com o mundo. E isso ficou comprovado agora com as dificuldades que o governo brasileiro teve para comprar vacinas de diversos países do mundo”, opinou.
Mário Negromonte Jr. (PP) indicou que, internamente, há boatos que as Forças Armadas também ficaram surpresas com a demissão de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. “O que a gente ouve falar e lê é que o setor dos militares foi pego de surpresa no ministério da Defesa, e a Flávia Arruda [nova secretária de Governo] é uma política, era presidente da Comissão de Orçamento. Eu não vejo essa articulação com as forças políticas. Não sei como o governo está pensando, mas a Flávia já é uma pessoa ligada ao partido do Centrão”, analisou.
“Não sei se o PL se sente contemplado. O governo faz uma minirreforma e, sinceramente, não vejo a base do governo ser contemplada. Eu acho que Bolsonaro é difícil fazer uma leitura. Pegou de surpresa a todos. Até os militares. Não sabemos o que pode vir pela frente. Eu sou ligado ao presidente da Câmara [Arthur Lira] e não vejo nenhuma vontade do presidente em fazer exigências, em ser contemplado. Não houve isso. Agora cada partido tem a sua posição e tem o direito de ter a posição política em relação da política", concluiu.
OPOSIÇÃO
Coordenador da bancada baiana no Congresso, Marcelo Nilo (PSB) foi o único dos parlamentares consultados pelo BN. Para ele, já estava claro que as articulações de Bolsonaro visam o favorecimento do bloco chamado de “centrão”.
“É o fortalecimento da política autoritária dele, já que o ministro do Exército [Fernando Azeedo] não estava seguindo a sua cartilha. Ele demite um ministro que defende o fortalecimento das Forças Armadas como instituição de Estado para colocar um ministro que ele possa comandar e fortalecer o centrão. A Flávia Arruda é esposa do Arruda, que foi cassado pelo Senado, e é do centrão”, opinou.
“O governo está acabando antes de completar 2 anos e meio todas essas mudanças foram exigência do centrão. É o fortalecimento também do centrão, que é um grupo de deputados, não todos, que enfraquece o presidente para comandar a gestão. Isto que está acontecendo. Lira ameaçou o impeachment e o Bolsonaro demitiu ministros”, acrescentou.
Diferente de Nilo, Alice Portugal (PCdoB) se disse surpresa com as alterações. Para ela, as mudanças sugerem que o governo está passando por um período de instabilidade. “Foi pressão que derrubou os dois [Araújo e Eduardo Pazuello]. Da sociedade, do empresariado, do mercado, do centrão, da esquerda e do povo. Por pressão ele teve que fazer estas alterações. Eu acho que, em contrapartida, ele está tentando radicalizar”, disse.
Para Bacelar (Podemos), Bolsonaro está sendo refém do centrão. "Enquanto Bolsonaro tiver algo para dar, eles vão tirando tudo. Não acredito que o governo ganha. Isso não atende ao conjunto da Câmara. Isso descontenta o bolsonarismo. Descontenta a esquerda. Apesar de que as mudanças na Saúde e nas Relações Exteriores são bem-vindas. Dificulta o andamento do processo de impeachment. Ele alia a base, ele e o grupo parlamentar que é expressivo", pontuou. //www.bahianoticias.com.br
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