Uma mulher negra de 46 anos, que estava desde a infância reclusa em casas de uma mesma família em Patos de Minas (MG), foi libertada no fim do mês passado por auditores fiscais do trabalho e pela Polícia Federal. A história foi abordada pelo “Fantástico”, da TV Globo. Madalena Gordiano vivia em condições análogas à escravidão desde os 8 anos, quando foi adotada por Maria das Graças Milagres Ribeiro, uma professora.
Ela era impedida de sair do apartamento onde dormia e tinha como uma das principais funções a limpeza do imóvel, – sem salário, descanso ou férias. Tudo começou quando Madalena, ainda criança, batia na porta de casas para pedir comida. “Fui lá pedir um pão para comer, porque estava com fome e não tinha pão na minha casa, aí ela [Maria] disse: ‘Não vou te dar pão, você vai morar comigo'”, contou ela ao programa.
Após aceitação da mãe de Madalena – que não tinha como criar nove filhos -, a adoção foi realizada, mas nunca formalizada. Assim que chegou à nova casa, ela foi tirada da escola. Desde então, ela basicamente vivia para ajudar os filhos de Maria e em tarefas domésticas, sem brinquedos e liberdade para sair sozinha. A doméstica também perdeu o contato com a sua família.
Depois de 24 anos na casa, ela contou que estava sendo rejeitada pelo marido de Maria. A solução da família foi dar Madalena a um dos filhos da professora, Dalton Ribeiro. A rotina, no entanto, não mudou.
“Ela acordava às 4h da manhã para poder passar roupas. Ninguém podia ver ela conversando com alguém do prédio, você via que ela ficava com medo quando eles chegavam”, disse ao “Fantástico” um morador do prédio que não quis ser identificado. Madalena, nos últimos anos, colocava bilhetes pedindo pequenas ajudas em dinheiro a vizinhos – geralmente, os pedidos eram para uso de produtos de higiene.Em depoimento, Dalton afirmou que foi Madalena quem quis parar de estudar e que não considerava a mulher como empregada, mas sim como parte da família. Desde que foi resgatada, ela vive em um abrigo para mulheres vítimas de violência e passou a sair sozinha para alguns locais.
Dalton Ribeiro, por outro lado, está sendo investigado pelo MPT por “submeter uma pessoa a condição análoga à escravidão” e por “tráfico de pessoas”. Maria também pode ser responsabilizada, já que crimes do tipo não prescrevem.
*Conteúdo reproduzido do UOL
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