sábado, 9 de maio de 2020

Isolamento social impõe restrições e solidão a grávidas e mães que tiveram bebês durante a pandemia do coronavírus

Geise Oliveira fala sobre a solidão no momento da gravidez por causa do isolamento — Foto: Geise Oliveira/arquivo pessoal
A pandemia do coronavírus alterou a rotina e frustrou os sonhos de mulheres que estão grávidas e de outras tantas que acabaram de ter bebês.

A necessidade de manter o isolamento social impõe a todas elas uma série de desafios, entre eles a solidão provocada pela distância física de parentes e amigos em um momento de profunda transformação na vida de uma mulher.

Essa é a maior dificuldade experimentada pela produtora cultural e pesquisadora Geise Oliveira, que está grávida de quase oito meses de um menino que se chamará Guilherme.

“Estou me sentindo solitária no sentido de não poder sair, não poder receber visitas, não poder sair para fazer o enxoval de Gui”, afirmou.

Monique Souza, que é advogada e microempresária, também sofre com a distância dos familiares.

A partir de meados de março, quando ela estava no quinto mês de gestação, a gravidez se tornou “virtual” até mesmo entre as pessoas mais próximas. Ela e Felipe Santana serão pais de gêmeas.

“Não vejo minha mãe há quase 2 meses, assim como minhas irmãs, que trabalham em hospitais e, querendo ou não, estão mais expostas. Somos muito próximas e isso me desestabiliza um pouco diariamente. Nós nos falamos por chamada de vídeo todos os dias, mas não é igual. Elas não puderam ver minha barriga crescer, sentir minhas filhas mexerem, acompanhar os exames de imagem”, afirmou.
Monique ganhou chá de fralda surpresa em Salvador — Foto: Arquivo pessoal
A solidão é só uma das consequências do isolamento experimentadas pelas futuras mamães. Sem poder sair de casa, exceto para realizar consultas e exames, outras atividades que são realizadas durante a gravidez, como o enxoval do bebê, foram descartadas.


Geise Oliveira conta que se sente frustrada por não poder comprar as roupas e montar o quarto de Guilherme do jeito que ela e Robson, o pai do bebê, sonharam.

“Isso tem sido o maior sentimento de tristeza, porque depois que caiu a ficha de que eu estava grávida, eu idealizei poder sair, comprar as coisinhas do quarto dele, poder fazer o chá de fraldas”, afirmou.

"Tanto a família por parte do pai de Gui quanto a minha família, todo mundo está muito perto. Mas tem uma coisa que era esse sonho, essa idealização desse momento, que a gente não está conseguindo vivenciar".

Já Monique Souza revela que não pôde realizar o ensaio fotográfico que planejou para o período da gravidez, além de não fazer ideia de quando poderá apresentar as filhas para familiares e amigos.

“Não posso fazer um ensaio fotográfico como planejava. Não posso registrar o parto com fotos profissionais também, porque os hospitais, por segurança, obviamente, não permitem a entrada no centro cirúrgico de mais ninguém além do pai e da equipe médica. Não podemos ter visitas de amigos e familiares no hospital, pois estas são limitadas, e em casa também. Ou seja, sabe-se lá quando vão poder conhecer nossas filhas”, disse.


No último final de semana, Monique e Felipe receberam um verdadeiro presente dos amigos, que passaram de carro pela porta do condomínio onde moram para a comemoração de um chá de fraldas diferente.

O evento ganhou o nome de “charreata” e foi organizado pela sogra de Monique.

“A ‘charreata’ foi uma grata surpresa. Já estávamos conformados que não teríamos oportunidade de reunir os amigos para celebrar esse momento, então, ao vê-los ali, ainda que de longe e em seus carros, foi especial demais! Minha gravidez não parecia mais estar sendo virtual. Eles viram minha barriga, me viram. Chorei muito, mas de gratidão”, disse. G1

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