O cenário que se desenha para as eleições municipais de 2020 em Itabuna tem uma incógnita chamada Fernando Gomes (sem partido). Prefeito da cidade pela quinta vez, ele instalou um quadro de incerteza na política local ao não deixar claro se pretende disputar um sexto mandato. Entre adversários e aliados, sobram especulações sobre o futuro daquele que é hoje o maior ator político das terras grapiúnas.
Gomes é ambíguo. Não diz nem que sim nem que não. Questionado sobre o assunto por A TARDE, deu uma resposta que não aponta para certezas: “Estou vendo aí, entendeu?”. Disse que só conversa sobre política a partir de março do ano que vem. No entanto, reclamou da situação financeira difícil vivida pelo município, razão apontada nos bastidores como uma das que podem retirar o prefeito do páreo. Segundo ele, Itabuna está quase falida. “O município está quebrado. Encontrei o município na inadimplência total quando assumi. Boa parte do que arrecadamos vai para pagar INSS, precatórios. Não fica nada para a prefeitura”, lamentou.
A crise de gestão enfrentada por Gomes foi constatada por A TARDE, que, em reportagem publicada em agosto deste ano, mostrou o caos na saúde municipal. Na época, dois hospitais estavam fechados e três ameaçavam encerrar as atividades.
Outro fator que mostra a indefinição do atual prefeito é que, até o momento, ele não se filiou a nenhum partido. Gomes está sem legenda desde agosto de 2017, quando deixou o DEM e migrou para a base do governador Rui Costa (PT). Chegou a flertar com o PSD do senador Otto Alencar e com o PL, a convite do deputado federal João Carlos Bacelar. No entanto, as negociações não avançaram com nenhum dos dois, que já têm pré-candidatos próprios.
Há rumores de que o PP, comandado na Bahia pelo vice-governador João Leão, teria interesse no passe do histórico político baiano. No entanto, fonte da alta cúpula da legenda ouvida pela reportagem afirmou que a tendência do partido é apostar em um nome novo, fugindo também do desgaste enfrentado pelo prefeito. A avaliação entre aliados é de que ele “perdeu o time” das negociações partidárias. Ele diz que define sua nova sigla até março do ano que vem.
Na base do prefeito na Câmara Municipal, os vereadores seguem à espera da decisão ou até mesmo de sinalizações de Gomes sobre seu futuro político.
Segundo fonte ouvida em condição de anonimato pela reportagem, do alto escalão da Casa, há possibilidade de haver debandada entre aliados, caso o gestor demore a bater o martelo sobre se vai concorrer à reeleição ou não. Com o fim das coligações proporcionais, quem vai disputar o Legislativo precisará de um candidato forte ao Executivo para servir como puxador de votos nas chapas de vereadores. Neste cenário, aqueles que tentarão se reeleger tendem a buscar alianças com nomes que efetivamente vão concorrer à prefeitura.
O apoio de Rui Costa é considerado como condição importante na decisão de Gomes. O petista é bem avaliado na cidade por causa de obras feitas por lá. Ter a unção do governo estadual, portanto, é visto como ativo importante para quem almeja a prefeitura. Rui, entretanto, ainda não deu sinalizações de como vai se posicionar em Itabuna, onde outros pré-candidatos de partidos da base aliada também aguardam seu apoio.
Oposição
Em meio às fragilidades da gestão Gomes, a oposição tenta viabilizar nomes para 2020. No PSD, a aposta é no ex-deputado estadual Augusto Castro. Ex-tucano, ele deixou o grupo de ACM Neto logo após as eleições de 2018 e passou a fazer parte da base de Rui. Mais votado para deputado estadual em Itabuna no ano passado, mesmo sem se reeleger, tenta construir alianças com siglas das hostes do governador. “Estamos agora em conversas com partidos da base e também que não são da base para construção de um projeto de desenvolvimento da cidade”, explicou.
Na mesma linha, vai o ex-prefeito da cidade, Geraldo Simões (PT), que quer voltar ao poder. O petista, que está em conversas com Castro, afirma que tenta criar uma frente de oposição, prioritariamente com partidos de esquerda, para ganhar a eleição.
Segundo ele, não há nome específico que poderia disputar o pleito como candidato único do grupo. Mas se coloca à disposição para concorrer. Como petista, vai pleitear o apoio do governador à frente. Apesar de apostar na reunião de partidos, não acredita em candidatura única na base de Rui. “Esta candidatura única é difícil”, assumiu.
Coisas da política
Partido que estadualmente marcha com o governador baiano, o PDT pode ter, em Itabuna, candidato com apoio do prefeito de Salvador, principal rival político do petista. Segundo lugar nas eleições de 2016, Dr. Mangabeira tem se aproximado do grupo de ACM Neto. Em 2018, foi cabo eleitoral de Zé Ronaldo (DEM) nas eleições para o governo, preterindo Rui.
Nos bastidores, afirma-se que a tendência de Neto é apoiar o pedetista, já que o DEM não teria quadro próprio forte para lançar no município. O movimento em relação a Mangabeira também é considerado como reflexo da aproximação entre as duas siglas no estado. Em Salvador, por exemplo, o secretário municipal de Saúde, Leo Prates, lançado na vida política pelo prefeito, está de malas prontas do DEM para o PDT. Ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes tem se derramado em elogios ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
O presidente do PDT na Bahia, deputado federal Félix Mendonça Jr., diz que nunca houve conversa com Neto sobre apoio a Mangabeira, mas não descarta a possibilidade: “Todo apoio é bem-vindo”. No PL, Capitão Azevedo é mais um que está em legenda do grupo de Rui, mas que pode ganhar apoio de nomes da oposição estadualmente. Sua escolha como pré-candidato não foi ponto pacífico no partido. João Carlos Bacelar queria Fernando Gomes. O presidente da sigla no estado, José Carlos Araújo, bancou e impôs Azevedo.
OLHAR DO ESPECIALISTA
Em Itabuna, historicamente, o cenário político só costuma se definir momentos antes da eleição
Agenor Gasparetto - Sociólogo
Uma das características de Itabuna é que, pelo menos desde o início dos anos 90 do século passado, o candidato que pontua como líder um ano antes das eleições chega exaurido ou nem mesmo chega como candidato real nas urnas. Em Itabuna, na semana da eleição, sempre há uma situação de empate técnico e não é possível se afirmar categoricamente quem será o vencedor. A disputa, a uma da semana da eleição, sempre esteve em aberto e em várias situações apresentou mudanças de cenários, em que o segundo e mesmo o terceiro sagrou-se vencedor. A propósito, desde os anos 90 do século passado, nenhum prefeito foi reeleito e nem fez sucessor. Sendo assim, eleitoralmente falando, ainda que seja muito cedo para prognósticos, o quadro que se apresenta, seguramente, capta mais nomes com forte presença nas eleições anteriores, do que propriamente projetem o futuro das urnas. A disputa, que ainda não começou, em que pese alguma movimentação e construção de alianças em andamento, está totalmente em aberto. E, caso a história dos últimos 30 anos se repita, o que parece provável, Itabuna precisará esperar que os votos sejam contados para a tensão das eleições desanuviar.
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