terça-feira, 20 de agosto de 2019

Mais de 80 milhões de brasileiras realizam dupla jornada de trabalho

Wilma Fernandes trabalha três dias por semana como diarista|| Foto Licia Rubinstein/Agência IBGE Notícias
Mais de 80 milhões de brasileiras (92,6% da população feminina com mais de 14 anos) realizam afazeres domésticos e cuidados de pessoas, em uma média de 21 horas semanais, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), referente ao quarto trimestre de 2018.

Essas atividades são categorizadas pela pesquisa como “Outras formas de trabalho”, e são essenciais para a reprodução social da vida, como explica Eleutéria Amora, da organização social Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra). “Se as mulheres cozinham para alguém que vai trabalhar, se levam uma criança para escola, que às vezes nem é seu filho, para alguém poder trabalhar, elas estão envolvidas nesse emaranhado de sustentação da sociedade”, exemplifica.

Mesmo depois da entrada no mercado de trabalho, ainda é muito comum na vida das mulheres o que ficou conhecido como dupla jornada: o emprego formal adicionado à rotina de cuidados e afazeres domésticos.

O fenômeno da dupla jornada é considerado um impedimento ao aumento da participação feminina na força de trabalho. Em 2018 a taxa de participação delas ainda era quase 20% inferior à dos homens (52,7% no 4º trimestre de 2018 contra 71,5% deles).

MULHERES REALIZAM DUPLA FUNÇÃO

Segundo a coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Bárbara Cobo, ou acontece a dupla função, ou a trabalhadora em geral acaba empregando outra mulher que a substitui em casa: “muitas vezes gastando todo o salário pra contratar alguém que faça o serviço”.

Os papéis sociais vistos como femininos ou masculinos ainda influenciam bastante as escolhas de profissões e as desigualdades salariais. Como principal exemplo, o trabalho doméstico remunerado é uma das ocupações que possuem maior incidência de mulheres no Brasil. Segundo a PNAD Contínua, das mais de 6,2 milhões de pessoas empregadas como trabalhadores domésticos, 4,5 milhões (94,1%) são mulheres.

A maior parte dos trabalhadores domésticos ainda trabalha sem carteira assinada e recebe, em média, R$740,00, valor abaixo do salário mínimo nacional, de R$998,00. Já a média salarial do trabalho com carteira assinada sobe para R$1.245,00.

O salário também varia quando se faz o recorte por gênero: enquanto a média salarial dos 280 mil homens que desempenhavam a função de trabalhador doméstico foi de R$1.019,61 no último trimestre de 2018, a das mulheres ficou em R$ 846,12.

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