A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) vai mexer nas regras do cheque especial. Essa é a forma de endividamento mais comum no Brasil. São 24 milhões de clientes dos bancos que usam o cheque especial para ajudar a fechar as contas no fim do mês. Um dinheiro rápido e sem burocracia, mas que custa muito caro: em média 324% ao ano. Bem acima da taxa de juros média cobrada no sistema financeiro.
O Banco Central pediu aos bancos mudanças para reduzir o custo desse tipo de dívida e nesta terça-feira (10) a Febraban anunciou novas regras. A partir do dia 1º de julho, os bancos terão que oferecer uma linha de crédito mais barata para os consumidores que usarem por 30 dias seguidos o cheque especial. Essa oferta vai ser feita para quem tiver passado de 15% do limite. O consumidor não vai ser obrigado a aceitar essa linha alternativa. Se o cliente não quiser, o banco tem que oferecer uma nova proposta a cada 30 dias.
O objetivo das novas regras é fazer com que o cheque especial seja usado por pouco tempo, só numa emergência. Como a taxa de juros é altíssima, o risco de calote também é grande: cinco vezes maior do que a média de outras linhas de crédito. O correntista acaba se enrolando para pagar e o banco para receber. “É um exemplo parecido, por exemplo, com transporte público: todo mundo anda de ônibus todos os dias, mas, em alguns momentos especiais, você pode usar o táxi, que é muito mais caro, mas é mais conveniente. O cheque especial é assim também”, explicou Murilo Portugal, presidente Febraban. Os bancos também têm interesse nessas mudanças, diz Juliana Inhasz, professora de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
“Eles estão agindo, bastante também, para reduzir um pouco das perdas que eles têm por conta da inadimplência, que é bem mais elevada nesses casos de cheque especial. Seja porque as pessoas não pagam, seja porque elas entram na Justiça e conseguem negociar taxas mais baixas, retornos mais baixos, eles estão de alguma forma assim também agindo em causa própria”, explica Juliana.
As taxas de juros cobradas no Brasil ainda estão entre as mais altas do mundo. Para caírem mais rapidamente é preciso aumentar a competição no setor bancário, explica Tony Volpon, economista-chefe do UBS Brasil.
“Quando os bancos começarem a competir entre eles mesmos, aí sim, em função dessa concorrência, para querer emprestar mais, a gente vai ver, deve ver nesse momento uma queda da taxa de juros cobrada”, afirma Tony. Segundo a Febraban, a taxa de juros dessa linha de crédito mais barata para quem entrar no cheque especial vai ser determinada livremente pelos bancos.
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