Das coisas que eu acho chatas no mundo, poucas são tão irritantes quanto a mania que algumas pessoas têm de se considerarem constantemente invejadas. É aquele povo que fica falando que “o lugar tá com uma vibe ruim”, “fulano tem uma energia negativa”, “ciclana fica me copiando”, “ela faz tudo pra ser igual a mim”, “ele deseja o que eu tenho”, e por aí vai. Não desacredito na inveja. Não descarto sua influência num ambiente e nem sua interferência nas relações. Simplesmente porque é uma característica do ser humano. Ela é parte da nossa obscuridade emocional. Um sentimento natural, que só se torna problema de fato dependendo da dose.
A inveja pode até ser útil quando serve pra impulsionar vontades e fazer com que se corra atrás de objetivos. Claro, isso é melhor se for apenas efeito de admiração, de se espelhar no outro de maneira saudável. Só que nem sempre é assim e muita gente segue em frente é graças mesmo a um incômodo no peito pela vitória alheia. Também não significa que a pessoa seja do mal, não tenha boa índole. Nada disso. Psicologicamente, pode existir algum desequilíbrio, a falta do desenvolvimento de crenças positivas sobre seu valor que bloqueiam a capacidade de olhar aquilo que se tem e se conquistou com orgulho, com amor próprio. É o eterno achar de grama do vizinho mais verde.
O curioso pra mim, no entanto, é que o discurso da inveja costuma vir justamente daqueles que mais a sentem. Pode reparar. Quem muito diz que o outro sente inveja disso e daquilo é um tremendo invejoso. Carrega uns muitos recalques pela vida. Fica desconfortável quando alguém conta que um amigo, conhecido ou familiar “comprou”, “ganhou”, “viajou”, “foi”, “fez”, “conseguiu” o que ele desejaria também.
Aí, surge mais um comportamento intrigante: o minimizar da conquista do “concorrente”. A festa dele sempre vai ser a melhor, o relacionamento é o perfeito, o lugar que ele compra roupa é incomparável, o restaurante que frequenta é o badalado, o lugar em que estudou é mais reconhecido, o destino onde passou férias é mais exótico e os planos futuros, ah, são muito ousados, garantia de sucesso! Tudo do invejoso é melhor nas rodas de conversa. Dos demais nunca é tão bom assim.
A tentativa aqui é de rebaixar ao máximo aquele de quem se sente a inveja pra parecer melhor, mais vencedor, mais satisfeito, mais feliz, mais bem-resolvido. Fachada. Só te coloca pra baixo quem teme sua capacidade. Quem tem certeza de que não consegue fazer igual ou melhor. Quem sabe que tem mais limitações do que gostaria. Pessoas de bem consigo mesmas, satisfeitas com os rumos da própria vida, ficam genuinamente contentes por verem os que estão a seu redor crescendo, seja profissionalmente ou pessoalmente. Não perdem tempo remoendo as sensações amargas do velho olho gordo.
No geral, basta dar de ombros pra turma da inveja. A não ser que você seja vítima de um invejoso capaz de te prejudicar, transformando a admiração torta em raiva. Fofocas, calúnias, bullying, difamação são situações realmente ruins que podem, sim, nascer da inveja. Nesse caso, não tenha medo de tomar medidas enérgicas contra o invejoso que extrapola, inclusive judiciais. Mas também não esquente a cabeça se for algo menor. Porque, no fundo, o invejoso e seu modo de agir são sacados por muita gente. A rotatividade das amizades é alta (ninguém aguenta). Um exagero aqui, outro ali, e logo ele deixa de ser levado a sério por todo mundo. Vai, obviamente, continuar se vangloriando. Só que uma hora, apenas para as paredes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário