A militante transexual Bárbara Trindade, de 21 anos, que perdeu o movimento das pernas e dos braços depois de ser atacada a tiros, na cidade de Presidente Dutra, na região norte da Bahia, foi transferida para Salvador na manhã desta quinta-feira (18), mais de um mês após o crime. Ela estava internada no Hospital Regional de Irecê, também no norte da Bahia. A transferência foi realizada 13 dias depois de um pedido do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
A informação foi passada ao G1 pela Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) e pela militante LGBT Ruby Santos, que é amiga da vítima. De acordo com a Sesab, Bárbara foi trazida para a capital baiana de helicóptero e levada para o Hospital Manoel Victorino, localizado no Largo de Nazaré, centro da capital baiana. Conforme a amiga da jovem, o estado de saúde dela é considerado estável e uma cirurgia deve ser realizada nos próximos dias.
Ainda segundo a amiga, a vítima está sob acompanhamento de uma irmã, que veio com ela para Salvador. A mulher está hospedada em uma casa que a Prefeitura de Presidente Dutra mantém na capital baiana para atender a população em caso de realização de exames na cidade.
A delegada Ezerlina Rocha, que é titular da Delegacia de Presidente Dutra e investiga o crime, informou ao G1 que o frentista Domingos Mendes, que é suspeito de atirar em Bárbara, continua preso na cidade. Segundo a delegada, o relatório sobre a quebra do sigilo telefônico do suspeito e da vítima, já autorizada pela Justiça, ainda é aguardado. O caso permanece sob investigação e o suspeito, conforme a polícia, nega o crime.
Caso
O crime ocorreu no dia 2 de abril. A vítima foi atingida por disparos no maxilar e nas costas. Bárbara conta, em um vídeo postado na internet, que havia marcado um encontro com o suspeito, por meio de mensagens em uma rede social, no dia do crime.
"Marcamos 23h, na Câmara Municipal de Presidente Dutra. Cheguei lá e fiquei esperando. Em seguida, chegou uma moto com duas pessoas, só que a rua estava muito escura, eu fiquei com medo e não fui. Em um determinado momento, ele [Domingos] desceu da moto e fez o primeiro disparo, que pegou no meu maxilar. Depois eu virei e tomei o segundo tiro, foi quando eu vi o rosto dele", relatou a vítima.
O suspeito, no entanto, segundo a polícia, nega o crime e ainda afirma que nunca teve nenhum relacionamento com a vítima. A delegada informou que a polícia apura se o frentista marcou o encontro com Bárbara ou se alguém se passou por ele ao enviar as mensagens para o celular da transexual. Por conta disso, a polícia pediu a quebra do sigilo telefônico do suspeito e da vítima.
Conforme a denúncia do Ministério Público Estadual, o frentista disparou contra Bárbara “mediante dissimulação e recurso que impossibilitou a defesa da vítima”. A denúncia do MP ainda reiteira o depoimento da vítima, afirmando que o frentista agendou um “encontro amoroso” com Bárbara no dia do crime. O Ministério Público afirma ainda que Domingos chegou ao local do encontro de "carona" em uma motocicleta. O motorista do veículo não foi identificado, segundo o MP.
A denúncia é de autoria dos promotores de Justiça Áviner Rocha Santos, Edna Márcia Souza de Oliveira, Fábio Nunes Guimarães e Igor Clóvis Miranda. A promotoria afirma que “o encontro designado pelo algoz serviu para dissimular sua real intenção e, dessa forma, diminuir a vigilância da vítima, permitindo eficiente ataque contra a vida alheia”.
Integrante de um coletivo LGBT que presta apoio à Barbara, a amiga Ruby Santos diz que o suspeito atirou na jovem porque ficou insatisfeito após ela ter contado sobre o relacionamento para outras pessoas. "Ele tinha relação com ela e ele ficou com raiva, porque ela contou sobre a relação na cidade e ele não quis ter o nome ligado com uma pessoa trans", contou Ruby. Os amigos da vítima fazem uma campanha por meio das redes sociais para arrecadar dinheiro e comprar cadeira de rodas e fraldas geriátricas para Bárbara. Inf: G1
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